
Raul Bopp
— Vamos brincar de Brasil? Mas sou eu quem manda. Quero morar numa casa grande ... Começou desse jeito a nossa história Negro fez papel de sombra. E foram chegando soldados e frades. Trouxeram as leis e os Dez Mandamentos. Jabuti perguntou: “— Ora é só isso?” Depois vieram as mulheres do próximo. Vieram imigrantes com alma a retalho. Brasil subiu até o 10.º andar. Litoral riu com os motores. Subúrbio confraternizou com a cidade. Negro coçou piano e fez música. Vira-bosta mudou de vida. Maitacas se instalaram no alto dos galhos. No interior, O Brasil continua desconfiado. A serra morde as carretas. Povo puxa bendito pra vir chuva. Nas estradas vazias, Cruzes sem nome marcam casos de morte. As vinganças continuam: Famílias se entredevoram nas tocaias. Há noites de reza e cata-piolho. Nas bandas do cemitério, Cachorro magro sem dono uiva sozinho. De vez em quando, a Mula-sem-cabeça sobe a serra, ver o Brasil como vai. Cobra Norato e outros poemas. (13.ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1984)